"... então, nós queremos o que? Que façam reflexões, que pensem em Deus, pensem nos santos..."
Isso é conselho que um Superintendente de Polícia Rodoviária Federal dê, na televisão? É o mesmo que uma professora dizer pro aluno preocupado com as provas: "meu filho, pense em Deus e reze muito pra tirar uma nota boa, não precisa estudar.", ou mesmo um médico dizer para um paciente com uma doença qualquer: "é melhor você rezar, esqueça os medicamentos". Aí depois quando eu digo que a religião cega as pessoas, o pessoal fica com raiva de mim.
Acredito que racionalistas como eu não podem julgar as pessoas que entregam seus destinos ao deus-dará, literalmente. Se somos racionalistas, precisamos entender (racionalizar) os motivos de cada um, também. Se as pessoas não possuem abertura o suficiente para questionar as coisas ao seu redor e precisam, de certa forma, confiar no intangível, que pelo menos elas absorvam a moral e a ética religiosa e as empreguem para um bom convívio social, inclusive aceitando que existem opiniões, visões e verdades diferentes e aprendendo a conviver com isso.
Não podemos também julgar quem faz seu trabalho de acordo com o que manda o figurino e se apega a uma fé para aumentar ou desenvolver sua confiança de modo a aumentar sua produtividade. Quem já foi gestor sabe o quanto é bom ter em sua equipe um funcionário que dê muito valor ao "Deus vai me ajudar". Todo time de futebol tem um grupinho de evangélicos, e esse tipo de coisa é bastante benéfica.
Entretanto, o problema aparece quando as pessoas começam a colocar em Deus a responsabilidade por seus atos ou a interferência direta nas suas vidas, comprometendo as demais. Ora, por mais que o Superintendente acima tenha sua fé e seja um bom profissional que eu espero que seja, ele não poderia jamais dizer o que disse. Em outras palavras, o que ele disse foi: "se quiser beber, beba... agora reze, pense em Deus e nos santos para não acontecer nenhum acidente". Ele não disse isso com essas palavras, mas deixou bastante implícito. Meus leitores cristãos vão discordar, obviamente, pelo simples costume de não enxergar a lógica racional existente nas coisas e preferir um caminho misterioso, duvidoso, mítico. Tudo bem, não os culpo. Mas que ele disse, disse!
É por essas e outras que tantos absurdos acontecem no mundo. Esses dias me peguei ouvindo Matanza, e vejam um trecho de uma música deles:
Conforme Disseram as Vozes
Matanza
Naquele dia comecei a ouvir as vozes
Que me falavam coisas sobre o meu destino
Do dia em que eu me tornaria de um sujeito ordinário
A um sistemático assassino
Eu esperei, conforme disseram as vozes
Pelo sinal do final do nosso tempo
E então passei pela mensagem revelada
Logo na entrada de um grande estacionamento
Não entendia direito todas as vozes
Mal compreendia qual era o objetivo
No entanto, tão rápido que se fala
Enchi o porta-malas do carro com os explosivos
Estacionei, conforme disseram as vozes
Na lateral, junto às portas do cinema
Senti pena pelos carros importados
Mas as vozes garantiram que valeria a pena
E de repente cessaram todas as vozes
Como se nunca tivessem existido
Alívio que seria memorável
Se eu não fosse o responsável por um shopping destruído
E desde então nunca mais ouvi as vozes,
Mas eu duvido que isso mude a minha sorte
O meu futuro é um pouco incerto
Daqui eu sigo direto para o corredor da morte
Muita gente ouve essas mesmas vozes, algumas até dizem as mesmas coisas (Realengo, oi?) e outras dizem coisas diferentes. De um modo ou de outro, faço um apelo para que vocês, que crêem, dêem menos ouvidos às vozes nas suas cabeças e mais valor às pessoas, às relações, ao tátil, ao visível, às leis humanas. O Reino de Deus é só para depois que morrer, mas durante a vida, o reino que existe é o animal. Não pautem suas ações pelo futuro incerto que ninguém veio dizer como seria, mas pelo presente de cada dia, pelo bem-estar social e pelo convívio em harmonia com as pessoas.
Ah, e pra encerrar, por favor: em caso de pegar um carro por aí, se quiser, até pode pensar em Deus e orar, mas por favor, NÃO BEBA! Respeite o outro no trânsito, BR não é circuito de fórmula 1! Respeite as leis de trânsito. Eu, que posso vir em sua direção, agradeço.
Flavio meu querido,
ResponderExcluiradoro seus textos!
Você escreve muito bem!!
Ps: Nem sempre as "vozes" que escutamos nos mandam fazes algo de ruim. Não vamos generalizar.
Você pode não acreditar, mas os anjos nos alertam de perigos através dessas "vozes".
Já me livrei de muitos males por ouvir essas vozes. A ultima vez foi quando ouvi alguém me mandar correr, e o fiz. Por sorte ouvi o recado, senão teria sido atingida pela marquize de um prédio velho. Foi de manhã cedo e não tinha ninguém por perto, mas eu ouvi alguém me mandar correr.
A religião é importante, necessária nos dias de hoje. O problema é que as pessoas tomam a religião pelas atitudes erradas de religiosos. Não podemos generalizar. Muitas pessoas foram e são exemplo religioso na sociedade atual, como Chico Xavier, Madre Tereza, Dom Hélder Câmara. As lições que essas pessoas nos passam são muito mais importantes do que as atrocidades que os ditos "religiosos" cometem por aí.
Continue escrevendo assim criatura!!
Beijuuuu!
Poli, obrigado por passar por aqui!
ResponderExcluirVeja bem... essa questão das 'vozes' eu nem abordei muito porque vai mais pro lado da psicologia, inconsciente, etc. Mas que bom que escapou da marquise! :P
Permita-me discordar quando você diz que a religião é importante nos dias de hoje. Não é mesmo! Com certeza as religiões foram importantes há 500 anos atrás, quando eram detentoras do conhecimento 'científico', por assim dizer. Mas depois que a verdadeira ciência veio, com as experiências empíricas nos mais diversos campos, a religião tornou-se absoleta e sua única utilidade tem sido a dominação política/social. E não falo somente das cristãs, não.
As pessoas que você citou foram muito mais importantes pelo seu lado humanitário do que por seu lado religioso, e é justamente essa parte que eu suplico. Mesmo quem é religioso deveria ter um lado humanitário muito mais latente, afinal religião é particular, e o convívio é social... embora muitas pessoas troquem isso e confundam tudo.
Beijo!
Oi, Flávio!
ResponderExcluirEi, adorei sua forma de colocar suas ideias, você escreve muito bem, de uma forma fluida e sem ser maçante.
Posso não compartilhar integralmente da sua visão peculiar acerca da tríade religião/fé/política, mas alguns pontos são interessantes. Por exemplo, concordo que a religião (qualquer que seja) está sendo utilizada com fins políticos e de alienação pública, coisa que sempre existiu. Quem está no poder sempre busca uma forma de controlar a psique coletiva e a religião é excelente, pois, cientificamente, o homem é programado para crer.
Mas eu separo religião (todas elas criadas pelo homem) de fé (algo que brota dentro da gente, independente de religião). A fé, se pudéssemos desconstruí-la e alçá-la à sua forma original, de instrumento de crença em algo, separando-a de todas as formas políticas, religiosas e comerciais que usam seu nome para serem justificadas, é um alicerce forte e seguro no qual o homem se apoia para viver. É necessário crermos em algo para justificar nossa presença aqui. Eu acredito em Deus e em seus planos, eu acredito que aqui não é o fim e que existe algo além de nossa compreensão. Mas também acredito fortemente que não podemos entregar nossas atitudes e pensamentos apenas à fé e me desculpar por minhas omissões, meus erros e "pecados" me escondendo atrás de um: "eu creio".
Quando você fala que as religiões eram detentoras do conhecimento científico há 500 anos, você está generalizando somente pela experiência da Europa Ocidental (e a Igreja Católica realmente travou o avanço por motivos já conhecidos e explicitados). Mas os árabes (seguidores do Islamismo), por exemplo, estavam avançando muito, nessa mesma época, em campos como a medicina, a matémática, a arquitetura...
Para não me estender demais (porque eu sou prolixa e maçante =]), concordo que as pessoas confundem tudo. A ignorância e o sentimento de "eu-estou-certo-e-nada-mais-importa" deturpa o sentido das coisas e transforma a fé, a caridade, a humanidade em coisas banais nesse mundo acelerado em que até a própria religião, tida como vilã, está sendo suplantada pela busca do sucesso pessoal a todo e qualquer custo.
Assim que der, eu leio mais e comento mais, tá? Continua escrevendo que você tem futuro! Posso não concordar com todas as ideias, mas reconheço que você se expressa muito bem. Só não se torne um fundamentalista da razão ;).
Beijo pra tu!
Oi, Elaine! Obrigado por passar por aqui e comentar, pode ter certeza que sua opinião engrandece muito o debate!
ResponderExcluirConcordo quando você diz que a gente precisa crer em alguma coisa para viver, mas eu, pessoalmente, creio no tangível, no acessível, no físico: ciência e pessoas. Somente. Você separa religião de fé porque é uma pessoa inteligentíssima e esclarecida, entretanto, são poucos feito você. A grande maioria se utiliza de recursos como erro/perdão para continuar errando e escondendo seus erros atrás da fé - e você sabe disso.
De fato, os muçulmanos/mouros sempre estiveram à frente dos católicos em vários quesitos, principalmente na abertura científico-tecnológica. Mas mesmo assim, ainda hoje, eles sobrepõem o conhecimento científico para fins religiosos - basta ver a Jihad e os homens-bomba.
Concordo também quando você diz que o sentido da fé, da caridade e da humanidade vem sendo deturpado, e sempre foi ao curso da história. Uma coisa é você ter fé e acreditar em algo e outra bem diferente é você se permitir ser lavado cerebralmente a ponto de admitir que a humanidade só tem 4000 anos, como diz a Bíblia. Cegueira não pode acompanhar a fé, de forma nenhuma.
O assunto é muito longo, e se a gente for se aprofundar muito, termina fugindo do tema central desse post, hehehe...
Mas fique à vontade para passar por aqui sempre que puder. Visões opostas aparadas pelo respeito são fundamentais para qualquer discussão sã, e seus questionamentos e comentários são interessantes demais.
Beijão!