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terça-feira, 26 de abril de 2011

Um dos cúmulos da fé

Vejam esse vídeo com bastante atenção, e relevem o talento da jornalista:


"... então, nós queremos o que? Que façam reflexões, que pensem em Deus, pensem nos santos..."

Isso é conselho que um Superintendente de Polícia Rodoviária Federal dê, na televisão? É o mesmo que uma professora dizer pro aluno preocupado com as provas: "meu filho, pense em Deus e reze muito pra tirar uma nota boa, não precisa estudar.", ou mesmo um médico dizer para um paciente com uma doença qualquer: "é melhor você rezar, esqueça os medicamentos". Aí depois quando eu digo que a religião cega as pessoas, o pessoal fica com raiva de mim.

Acredito que racionalistas como eu não podem julgar as pessoas que entregam seus destinos ao deus-dará, literalmente. Se somos racionalistas, precisamos entender (racionalizar) os motivos de cada um, também. Se as pessoas não possuem abertura o suficiente para questionar as coisas ao seu redor e precisam, de certa forma, confiar no intangível, que pelo menos elas absorvam a moral e a ética religiosa e as empreguem para um bom convívio social, inclusive aceitando que existem opiniões, visões e verdades diferentes e aprendendo a conviver com isso. 

Não podemos também julgar quem faz seu trabalho de acordo com o que manda o figurino e se apega a uma fé para aumentar ou desenvolver sua confiança de modo a aumentar sua produtividade. Quem já foi gestor sabe o quanto é bom ter em sua equipe um funcionário que dê muito valor ao "Deus vai me ajudar". Todo time de futebol tem um grupinho de evangélicos, e esse tipo de coisa é bastante benéfica.

Entretanto, o problema aparece quando as pessoas começam a colocar em Deus a responsabilidade por seus atos ou a interferência direta nas suas vidas, comprometendo as demais. Ora, por mais que o Superintendente acima tenha sua fé e seja um bom profissional que eu espero que seja, ele não poderia jamais dizer o que disse. Em outras palavras, o que ele disse foi: "se quiser beber, beba... agora reze, pense em Deus e nos santos para não acontecer nenhum acidente". Ele não disse isso com essas palavras, mas deixou bastante implícito. Meus leitores cristãos vão discordar, obviamente, pelo simples costume de não enxergar a lógica racional existente nas coisas e preferir um caminho misterioso, duvidoso, mítico. Tudo bem, não os culpo. Mas que ele disse, disse!

É por essas e outras que tantos absurdos acontecem no mundo. Esses dias me peguei ouvindo Matanza, e vejam um trecho de uma música deles:

Conforme Disseram as Vozes
Matanza

Naquele dia comecei a ouvir as vozes
Que me falavam coisas sobre o meu destino
Do dia em que eu me tornaria de um sujeito ordinário
A um sistemático assassino

Eu esperei, conforme disseram as vozes
Pelo sinal do final do nosso tempo
E então passei pela mensagem revelada
Logo na entrada de um grande estacionamento

Não entendia direito todas as vozes
Mal compreendia qual era o objetivo
No entanto, tão rápido que se fala
Enchi o porta-malas do carro com os explosivos

Estacionei, conforme disseram as vozes
Na lateral, junto às portas do cinema
Senti pena pelos carros importados
Mas as vozes garantiram que valeria a pena

E de repente cessaram todas as vozes
Como se nunca tivessem existido
Alívio que seria memorável
Se eu não fosse o responsável por um shopping destruído

E desde então nunca mais ouvi as vozes,
Mas eu duvido que isso mude a minha sorte
O meu futuro é um pouco incerto
Daqui eu sigo direto para o corredor da morte



Muita gente ouve essas mesmas vozes, algumas até dizem as mesmas coisas (Realengo, oi?) e outras dizem coisas diferentes. De um modo ou de outro, faço um apelo para que vocês, que crêem, dêem menos ouvidos às vozes nas suas cabeças e mais valor às pessoas, às relações, ao tátil, ao visível, às leis humanas. O Reino de Deus é só para depois que morrer, mas durante a vida, o reino que existe é o animal. Não pautem suas ações pelo futuro incerto que ninguém veio dizer como seria, mas pelo presente de cada dia, pelo bem-estar social e pelo convívio em harmonia com as pessoas.

Ah, e pra encerrar, por favor: em caso de pegar um carro por aí, se quiser, até pode pensar em Deus e orar, mas por favor, NÃO BEBA! Respeite o outro no trânsito, BR não é circuito de fórmula 1! Respeite as leis de trânsito. Eu, que posso vir em sua direção, agradeço.

sábado, 23 de abril de 2011

O Ritual e os rituais


Ontem assisti O Ritual (The Rite, 2011) com minha irmã, que já me enchia a paciência há algum tempo para assistir esse filme. O filme é baseado no livro homônimo do jornalista Matt Baglio, que conta suas experiências com padres exorcistas. 

Capa do livro que originou o filme

De diferente de O Exorcista (The Exorcist, 1973) apenas algumas situações, como por exemplo, a manifestação do demônio através de ligações telefônicas ou uma sala de aula high-tech no Vaticano. No geral, é mais do mesmo: exorcismo.
O filme é interessante e dá margens a várias reflexões. Se você é cristão e acredita em tudo aquilo, vai se deliciar com o final. Se você se deixa impressionar facilmente por qualquer coisa, ou desiste do filme na metade ou termina-o se benzendo. Agora se você for cético como eu vai se ater aos questionamentos que o jovem padre faz ao longo do filme.
#1: Ele entra para o seminário por falta do que fazer, falta de rumo. Isso soa familiar, não? Quantos padres você conhece que entrou para a Igreja pelos mesmos motivos? De fato, o velho ‘chamado de Deus’ parece que não tem tido um alcance tão bom. É difícil ouvir essa justificativa hoje em dia. Entrar num seminário por falta do que fazer é igual a fazer Letras por falta de opção no interior ou Administração na capital porque tem emprego fácil. O resultado é que você será um péssimo profissional. Ou entra porque gosta, porque tem tesão naquilo, ou não entra! Ser um padre que não acredita no celibato e que se esconde atrás (ou na frente) de coroinhas e outros membros do clérigo é um pecado institucional. É fazer gol contra. Imaginem um professor que tem dificuldades de fala e escrita, que não tem motivação, que passa mais tempo pagando substituto do que dando aula... você confiaria nesse professor? Muitos também entram no seminário por ser uma vida mais fácil, sem precisar arrumar emprego ou se stressar com uma família. Só que chega uma hora que não dá mais pra aguentar as consequências da escolha e, eventualmente, a gente vê padres estupradores, pedófilos ou gays. Ou tudo isso. É natural que os jovens fiquem perdidos ao final do colégio, sem saber ainda o que fazer da vida. Pior que isso, é também natural que muitos sofram uma influência pesada da família, como é o caso do padre do filme, e isso acaba por cercear um bocado as escolhas que essas pessoas passam fazer.

Michael Kovak, o quase-padre.


 #2: Ele pensa em abandonar o seminário, já perto do final, por falta de fé. Se ele já começou errado, não poderia ter terminado bem. Depois de 4 anos ainda não tem fé em nada? Pudera. Digamos que os meios educacionais da Igreja ainda sejam meio ‘ortodoxos demais’. É engraçada a cena em que ele está escrevendo o email (!) no qual se ‘demite’ do cargo de padre antes mesmo de o assumir: ele está deitado na cama escrevendo no notebook e num outro cômodo, dois outros seminaristas jogam algum jogo de guerra no videogame. Tragicômico. Na cena seguinte, ele se encontra com um de seus professores/superiores, que termina o convencendo de desistir da ideia de abandonar a Igreja e o envia para o Vaticano para poder estudar e se tornar um exorcista. Diga-se de passagem que ele é convencido facilmente, porque se abandonasse o seminário àquela altura, teria uma pequena e simbólica dívida com a Igreja no valor de $100.000,00. Quem não viraria exorcista? Até eu!
#3: Chegando no Vaticano, a primeira coisa que ele faz é se decepcionar porque no seu quarto não tem TV a cabo. Pense num desprendimento das coisas materiais desse padre! Em seguida, ele chega atrasado para a aula. Pense num comprometimento! Depois disso, a jornalista interpretada por Alice Braga (que na verdade é o papel do autor do livro, já que foi ele que teve oportunidade de assistir a essas aulas) dá em cima dele. Sodomia total.
Depois disso, a parte interessante começa. O jovem quase-padre faz 2 questionamentos interessantíssimos. O primeiro deles é quando seu professor está falando sobre possessões e diz que o sinal mais fácil de identificar numa possessão é a reação negativa a objetos santos, como crucifixos ou água benta. Em seguida, uma aluna pergunta como diferenciar uma ilusão de possessão de uma possessão real, no que o professor rebate dizendo que é tarefa do exorcista diferenciar um do outro, dando o exemplo dos paranoicos esquizofrênicos que não tem ciência de que estão alucinando. Então acontece o seguinte diálogo entre o quase-padre e o professor: 


QP: Os que estão possuídos também não têm ciência de que estão possuídos.

P: Mas eles apresentam períodos de lucidez.

QP: Os esquizofrênicos também.

P: Como eles poderiam então apresentar habilidades somente em um dado momento? Um alemão nessa fita fala russo enquanto está possuído.

QP: Como um menino de uma aldeia na África pode ser encontrado a 740km de casa alegando ter sido abduzido por alienígenas? É igualmente improvável. Mas estamos chamando o menino de louco, e não seu alemão, só porque ele acredita em alienígenas e não em Deus.

Professor dá as costas e diz: Não estamos aqui para analisar ciência ou religião.
Como simples conhecimentos científicos podem derrubar argumentos religiosos embasados! 
Em seguida, outro comentário inteligentíssimo:
P: Michael, você acredita em pecado?

M: Sim, mas não acredito que seja o Diabo que nos faça cometê-lo.

P: Aquele que comete pecado pertence ao Diabo.

M: Então todos nós pertencemos ao Diabo, certo? E se somos todos do Diabo, como combate-lo?

Professor dá um risinho e muda de assunto.
Pecado original, Adão e Eva, já nascer no pecado... De acordo com o raciocínio lógico do jovem quase-padre, nós somos em primeiro lugar, filhos de Satanás, e ao decorrer da vida, dependendo de batismo, comunhão e crisma é que nos tornamos filhos de Deus. Isso se a gente não pecar no meio do caminho. DEAL WITH IT. Dê conta. Esse tipo de coisa não entra na minha cabeça. Como assim a gente nasce e já nasce errado? Nossos pais nos fazem e a culpa é nossa? Eis aí mais um instrumento de dominação utilizado pela SICAR ao longo dos tempos: fazer filho só depois de casado, e tanto dentro ou fora do casamento, o filho já nascia pecador, precisando da salvação divina desde o momento em que saísse da barriga da mãe. 

Na sequência, o jovem quase-padre encontra com um exorcista profissional, Padre Lucas, interpretado brilhantemente por Anthony Hopkins, e vê que, segundo o livro/filme, possessões demoníacas existem de verdade. A partir desse ponto, cada um tire a conclusão que quiser. Meu objetivo com esse post não é debater se existe ou não, até porque na minha cabeça, se não existe o Bem Supremo, também não existe o Mau Supremo - é questão de lógica. Até porque a própria ideia do surgimento do Diabo não é um reflexo muito bom da ideia do Deus benevolente. Mas isso é assunto pra outro post. 

Assistam o filme e façam seus comentários, ou então comentem sobre os trechos que citei aqui desarmados de qualquer preconceito.

Light it up!

sábado, 16 de abril de 2011

Intolerância, sinônimo de preconceito.

Jair Bolsonaro. Certamente vocês já ouviram falar nele. Se não (sério?!), eis aqui um breve resumo:





Jair Messias Bolsonaro é um militar da reserva e político brasileiro e ganhou notoriedade nacional após declarações polêmicas sobre homofobia, preconceito racial, sexismo, cotas raciais, manutenção do regime militar no Brasil, entre outros. Algumas de suas pérolas:

"O homem é produto do meio, imagina se pega essa lei, permitindo que casais homossexuais adotem crianças? Vão fazer reserva de mercado para jovens garotos homossexuais. O filho vai crescer vendo a mãe bigoduda ou careca, o pai andando de calcinha ou a mãe de cueca.Você já viu o novo Programa Nacional de Direitos Humanos da Maria do Rosário voltado à população LGBT? Viu lá professor gay em escola de primeiro grau, livro didático com gravuras homossexuais, bolsa gay pró-jovem homossexual... É legal isso? Meu filho vai ter que dizer que é gay pra ter uma bolsa de estudos? Ou vai ter que queimar a rosquinha pra ter direito a bolsa de estudos para entrar na cota de homossexual, é isso?"

Ao ser questionado no programa CQC (assista o vídeo aqui) por Preta Gil sobre o que faria caso seu filho fosse gay, ele respondeu o seguinte:

“Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Não corro esse risco porque os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu (de Preta Gil).”
O Deputado Bolsonaro se vale da sua imunidade parlamentar para proferir impropérios como esse, recheados de preconceito e discriminação em vários níveis. Assim fica fácil, não é, Deputado? Se eu for falar uma coisa dessas, serei preso no dia seguinte.

É interessante perceber como o fundamentalismo religioso interfere diretamente em uma sociedade laica. Bolsonaro se apoia em tradições e passagens bíblicas para defender seu ponto de vista. No post sobre o aborto e a Igreja Católica, eu citei o seguinte versículo do livro de Levítico:

"Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles."
 A partir daí, a Bíblia nos dá margem a infinitas interpretações e condena o homossexualismo como se fosse coisa maléfica, como se fosse uma doença. O problema é quando seus próprios membros cometem esse pecado. Quantos padres você conhece ou já ouviu falar que tiveram casos com coroinhas, outros membros do clero, ou até mesmo (pasmem!) com mulheres? Esse é um dos motivos pelos quais o cristianismo segue sendo fatiado ao longo do tempo, criando outros braços com pequenas diferenças em suas doutrinas, mas mesmo que com princípios iguais colocam uma doutrina contra outra, em um duelo aberto e declarado. Acho que o pessoal dessas Igrejas cristãs menos tradicionais se esquecem que hoje em dia tudo está disponível para todo mundo. Um culto que eu pregar qualquer porcaria hoje de tarde aqui em Pesqueira, hoje de noite poderá estar na Internet e segunda-feira eu posso ser esculhambado e detonado em todas as mídias sociais que existem, desde a fofoca até o twitter, passando pelos jornais e revistas de todos os tipos.

Deputado Jair Bolsonaro (Wikipedia)


Outro fator importante que os religiosos, extremistas ou não, se esquecem é que o homossexualismo é mais antigo até do que o cristianismo. Na Grécia Antiga, era comum, pra não dizer via de regra. A expressão 'pederastia' vem daí, significa amor por ou de garotos. Era a relação entre uma pessoa mais velha e uma mais nova, e não era difícil ver essas relações entre homens. Na Grécia Antiga, pessoas superiores na sociedade praticavam sexo com quem bem quisesse nas camadas inferiores: mulheres, homens, escravos, estrangeiros, prostitutas... não fazia diferença.

Depois do Império Romano ter conquistado toda a Grécia e ter imposto a religião católica como lei, adotando vários dos deuses gregos como santos para atrair mais fiéis, algum membro do alto escalão imperial deve ter estabelecido também que alguns costumes gregos não poderiam ser levados adiante, frente ao embate contra a teoria Adão/Eva, como por exemplo, a homossexualidade. Se perante Deus o ato sexual só era legal para fins de procriação, e mesmo assim apenas entre os casados, sexo fora do casamento com pessoas do mesmo sexo só poderia ser pecado, duplo ainda mais. Muito tempo depois desse período, vivemos situações como essa do Deputado, que na verdade nos faz reviver todo o poderio institucional-dominador da Igreja Católica Apostólica Romana. Há 600 anos era fácil impor a religião católica como verdade universal e dizer que homossexuais eram pecaminosos e doentes e não faziam a vontade de Deus, e assim sendo, seriam queimados em fogueiras, sem nenhuma defesa de direitos humanos. Já nos dia de hoje é mais difícil queimar na fogueira, porque perseguir e praguejar contra os que não seguem sua doutrina ainda é facilmente visto na sociedade. Pensar diferente na Idade Média era morte na certa.

Novamente, se esquecem os religiosos que a homossexualidade não é uma característica apenas da espécie humana. Vários estudos comprovam que esse fator também é encontrado entre outras espécies, das mais próximas às mais distantes. Em 2006, o Museu de História Natural de Oslo (Noruega) apresentou uma exposição com mais de 500 espécies que apresentam relações homossexuais entre seus seres. Chamada de Against Nature (Contra a Natureza, em tradução livre), a exposição mostrou mamíferos, insetos e até crustáceos. Em outro estudo, publicado pelo periódico "Trends in Ecology and Evolution" (Tendências em Ecologia e Evolução, em tradução livre), foi afirmado que a homossexualidade no reino animal favoreceu de várias maneiras as diferentes espécies em sua evolução.

Um fato que a ciência explica é que quanto maior a opressão, maior a vontade. 2000 anos de repressão homossexual dá nisso: clérigos hipócritas, militantes preconceituosos e pessoas em altos postos na sociedade contemporânea falando besteira em público. Diga a uma criança que ela não pode comer determinado doce e ela só vai sossegar até comer o tal doce. E ela faz isso porque não tem consciência que o 'não poder', na verdade, é 'não dever comer em exagero pois pode fazer mal, engordar, acarretar em problemas de saúde, etc..'. É diferente de dizer a um adulto, são, maduro e diabético que se ele comer muito doce ele se lasca. Este saberá diferenciar as coisas e só fará o que não deve se não tiver juízo mesmo - o que já é outro problema. Aliás... essa conversa de não poder comer tal coisa não soa BASTANTE familiar? E o resultado da conversa também é extremamente difundido. Sendo bastante pragmático, e que me perdoem os cristãos leitores deste blog, a culpa do pecado original de Adão e Eva foi de ninguém menos que Deus. Mas isso nenhum padre vai dizer, obviamente. Afinal, é muito mais fácil colocar a 'culpa' no livre arbítrio e nos homens do que no Todo-Poderoso. Mas isso é assunto para um outro dia...

Século XXI, minha gente. Não temos mais tempo a perder com preconceitos ou conceitos arcaicos. Abram os olhos!

Carl Sagan em 3 vídeos

 

Vale a pena assistir os 3 vídeos. Faz a gente repensar certas coisas, né não?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Igreja Católica e o aborto



Você sabia que, ao contrário do que pensamos, a Igreja Católica nem sempre condenou o aborto? A interrupção da gravidez só se tornou pecado em 1869, por causa de um acordo entre o papa Pio 9º e o imperador francês Napoleão 3º.
E isso aconteceu porque a França passava por uma crise de baixa natalidade que incomodava os planos de industrialização do governante. Então, motivado por questões políticas, o papa disse para a população que a partir daquele momento o aborto – em qualquer fase da gravidez– era pecado.
Até aquele ano, a Igreja oscilava entre condenar ou admitir o aborto em certas fases da gravidez de acordo com o contexto histórico. No entanto, a discussão sobre qual é o momento em que o feto pode ser considerado um ser humano sempre existiu. Santo Agostinho, por exemplo, defendia no século 4 que só 40 dias após a fecundação o embrião se tornava uma pessoa.

(via SuperInteressante)

Realmente, super interessante ler isso, não acham? Mais um dogma importante da ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) que foi baseado apenas em politicagem.

Interessante também é imaginar como seria o catolicismo hoje se os padres pudessem se casar (Igreja Católica Apostólica Brasileira... já ouviram falar?), se o aborto fosse permitido, se não adorassem santos - ou se pelo menos os santos fossem santos mesmo, tirando todos os que foram canonizados por atos políticos...

Imaginar uma Igreja menos dogmática, menos misteriosa e mais humanitária, mais atualizada é um exercício bastante difícil. Quantos das suas tradições tem suas origens em costumes de milhares de anos atrás? Fica até difícil conseguir separar o que de fato é tangível do que é suposto.

O fato é: ao longo da história, a Igreja utilizou de meios nada politicamente corretos para efeitos de dominação e controle. Há 500, 800 anos atrás esse tipo de prática era uma coisa. Hoje em dia é um absurdo completo. Exemplo?

Voltemos 2 anos atrás. 04 de março de 2009. Uma garotinha de 9 anos havia sido estuprada e teria engravidado do seu padrasto. De gêmeos. Com a autorização da mãe e o consentimento da criança, o Dr. Sérgio Cabral, diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM) em Recife, executou o procedimento de abortar a gestação dos fetos.


Vejam a declaração do Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho:

“A menina engravidou de maneira totalmente injusta, mas devemos salvar vidas”

Salvar vidas? As dos bebês e destruir a do restante da família? Pois Dom José foi mais além e excomungou o médico responsável pelo aborto na menina. 

"Ao justificar sua ação, dom José Cardoso Sobrinho disse que, aos olhos da Igreja, o aborto foi um crime e que a lei dos homens não está acima das leis de Deus."

COMO ASSIM a lei dos homens não está acima das leis de Deus? Vamos fazer um rápido estudo bíblico?

"Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá."
Deuteronômio, 18;20.



"Seis dias se trabalhará, mas o sétimo dia vos será santo, o sábado do repouso ao SENHOR; todo aquele que nele fizer qualquer trabalho morrerá."Êxodo, 35;2.

"Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles. E, quando um homem tomar uma mulher e a sua mãe, maldade é; a ele e a elas queimarão com fogo, para que não haja maldade no meio de vós."
Levítico, 20;13-14.

Está na Bíblia! Nesse caso, tanto a criança de 9 anos, quanto a mãe quanto o seu companheiro que abusou da criança deveriam MORRER. É essa a Lei que o Dom José Cardoso Sobrinho queria que se aplicasse, já que é a Lei de Deus? Além disso, também coloquei o versículo anterior (13), que diz claramente que todo gay deve ser morto. Repito: todo gay deve ser morto. Você leu direito a citação? Abra sua Bíblia em Levítico 20;13.

Dom José Cardoso Sobrinho


Mas voltando ao caso da gravidez/aborto, vejam o que disse a Direção do CISAM:

"Se a gravidez continuasse, o dano seria pior. O risco existiria até de morte ou de uma sequela definitiva de não poder mais engravidar”

Dom José Cardoso Sobrinho continuou com sua verborragia:

“Para incorrer nessa penalidade eclesiástica, é preciso maioridade. A Igreja, então, é muito benévola, quer dizer, sobretudo, com os menores. Agora os adultos, quem aprovou, quem realizou esse aborto, incorreu na excomunhão. A Igreja não costuma comunicar isso. Agora, a gente espera que essa pessoa, em momentos de reflexão, não espere a hora da morte para se arrepender”.

É... a Igreja é muito benévola. Que o diga os milhares de inocentes mortos pelas Cruzadas e os cientistas da Idade Média que discordavam das posturas cômicas eclesiásticas.






Fontes de pesquisa:
Revista SuperInteressante
www.globo.com
pt.wikipedia.org




Voltaire e o Terremoto de Lisboa de 1755

Em 1º de novembro 1755 aconteceu uma das maiores catástrofes naturais da Europa em Lisboa, Portugal. A cidade foi quase que inteiramente destruída por um terremoto que os especialistas hoje consideram ter alcançado 9 pontos na escala Richter, e em seguida por um tsunami com ondas que acredita-se terem chegado a cerca de 20m de altura. Some a isso tudo o fato de Lisboa ser uma cidade oceânica e com áreas de fácil inundação na parte baixa e também as péssimas condições de construções da época, com casebres de até 7 andares. Estimativas dão conta de 10 mil mortos nesta catástrofe.

Ruínas de Lisboa, 1755 (Wikipedia)


Destruição à parte, o que me chamou especialmente a atenção foi a obra Poème Sur Le Désastre de Lisbonne (Poema Sobre o Desastre de Lisboa), do iluminista Voltaire. Na época, como se é sabido, tudo que acontecia ou não era atribuído a Deus. Nesse contexto, nada mais natural do que imaginar o que se passava na cabeça dos lusitanos: certamente Deus os havia castigado de uma forma terrível, por sabe-se lá o quê que eles tenham feito e que mereceriam tamanho castigo. Nessa obra, Voltaire escreve e cita Epicuro, questionando a onipotência e a benevolência de Deus todo-poderoso:

Voltaire (Wikipedia)
"Ou Deus quis impedir o mal e não pode, ou pode e não quis. Ou mesmo nem quis e nem pode. Se quis e não pode, não é Deus; se pode e não quis, não é bom. Se quer e pode, qual a origem de todos os males?"








Esse questionamento é fundamental para que entendamos o princípio do Iluminismo. Não foi o terremoto e a destruição em si que despertaram os filósofos da época para o racionalismo, mas os acontecimentos estavam inseridos numa época de grandes transformações na sociedade Europeia (e por extensão, mundial): além do Iluminismo, a Revolução Industrial dava as caras na Inglaterra e trazia consigo o Capitalismo, que mudaria completamente as relações trabalhistas e sociais no mundo.



Epicuro (Wikipedia)
Ora, esse questionamento faz todo sentido. Se Deus era todo poderoso, cheio de graça e amor e pai eterno de toda a humanidade, porque matou milhares de inocentes, entre elas crianças que talvez nem conhecessem o pecado? Qual seria o sentido em tirar vidas ainda puras e com tanta coisa para se viver? Outro ponto importante é: se existe um Deus (bom), há de ter também o mal para contrabalancear. Teria sido esse terremoto uma obra do mal? Se sim, porque Deus não evitou?

Hoje em dia convivemos com terremotos quase que diariamente. Países como o Japão cultivaram o costume de estarem sempre preparados para um desastre assim, construindo prédios com molas e treinando todos os habitantes para situações de emergências. No último terremoto acontecido lá, em fevereiro, era impressionante ver a calma dos cidadãos e a certeza de que o Estado iria prover o que lhes faltasse. Com tempo, tudo se reorganizaria. Uma cratera em uma autoestrada foi recuperada em apenas 6 dias! Isso no Brasil levaria pelo menos 6 meses para ser feito. Além de conviver com tais catástrofes, hoje temos a plena consciência de que esses fenômenos não são obras da Divina ira, mas meros reflexos dos choques entre as placas tectônicas que bailam sob os oceanos num ritmo frenético que assusta a todos nós. Agora imagine explicar isso aos medievos...

Epicentro do terremoto e áreas atingidas
(Wikipedia)

Hoje chega a ser ridículo para nós imaginar que o povo da época achava que estava sendo castigado por Deus. Hoje sabemos que Deus não tem nada a ver com isso. Talvez se as construções na cidade fossem mais espalhadas nas áreas mais afastadas do litoral e menos empilhadas, como disse Voltaire, a destruição tivesse sido menor. Ou não, já que o terremoto foi realmente absurdo e foi sentido em várias regiões da própria Europa, da África e da América. 


Marquês de Pombal
De bom desse evento podemos tomar o fato que esse foi o nascimento da Sismologia. Se hoje podemos prever um terremoto ou um tsunami, ou pelo menos podemos compreendê-los um pouco, devemos essa ciência ao Marquês de Pombal, que após o sismo, fez uma detalhada pesquisa em todo o país para investigar e procurar saber mais sobre os seus efeitos. Além disso, o Marquês foi responsável também pela reconstrução da cidade de Lisboa.

Fica o questionamento: até quando a ignorância das pessoas permitirá que catástrofes continuem acontecendo nos dias de hoje? Até quando as religiões manterão seus fiéis cegos, desconectados do mundo contemporâneo em nome de dogmas de milhares de anos atrás? Muito dos problemas que a sociedade enfrenta atualmente se vale da intolerância originada há séculos entre os povos, intolerância essa enraizada cada vez mais no fanatismo religioso, pregado através de todos os meios disponíveis.

Ah, e pra encerrar, fica a dica para aquela cidadã que tuitou a maior besteira do mundo quando do terremoto/tsunami no Japão no início do ano, lembram?
O retrato da ignorância, da cegueira e do fanatismo religioso. A famosa lavagem cerebral.

Sim, anaacristtina, SEU DEUS também castigou SEU POVO com um desastre SEMELHANTE há 255 anos!

Acordemos!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Light it up

Iluminismo. Apareceu na França do século XVII e defendia a razão em detrimento da fé, a 'iluminação' da Idade das Trevas (Idade Média). Para os iluministas, o mundo teocêntrico, mítico, enigmático e dogmático deveria ser repensado de forma que a busca pelas respostas e os problemas deveria partir da razão, do conhecimento. Ao longo do movimento, vários filósofos e estudiosos contribuíram para o crescimento intelectual do ser humano, e nós vamos explorá-los aqui aos poucos. Nomes como Voltaire, John Locke, Rousseau, Montesquieu, Diderot e outros serão dissecados e suas ideias debatidas. Até esse período, tudo era vontade de Deus, todas as perguntas óbvias eram dádivas de Deus e os questionamentos que não podiam ser explicados recorriam à fé, a Deus para serem respondidos. Deus era o centro, a origem, a verdade, o futuro, o conhecido e o desconhecido. Por ele, e em seu nome, se vivia e se matava. Principalmente matava.

Entretanto... mais de 300 anos se passaram de lá pra cá e o cenário hoje não é muito diferente. Diariamente vemos as atrocidades cometidas pelo mundo em nome dos deuses, sejam eles quem forem. Guerras aconteceram e milhões foram mortos, subjugados e julgados como não-dignos de viverem no Planeta Terra apenas por discordarem da ideologia dominante. Enquanto a ciência evolui assustadoramente, tornando os sonhos dos nossos antepassados em realidade, a cabeça do ser humano não consegue evoluir com esse bloqueio exercido - com perfeição, diga-se de passagem - pelas tantas igrejas e seitas que existem, cada uma delas pregando sua verdade.

Se hoje conversar com outra pessoa do outro lado do mundo 'apenas' por voz ou por vídeo, passar por procedimentos cirúrgicos totalmente efetuados por uma máquina com perfeita precisão, jogar xadrez com um computador (e ganhar!), percorrer milhares de quilômetros em poucas horas cruzando os céus, gerar crianças em laboratórios para pais inférteis, obter um diploma sem sair de casa, dentre tantas outras coisas que nos são banais, porque ainda vemos então guerras 'santas'? Porque ainda vemos preconceito e discriminação de ideologia? Porque ainda vemos intolerância religiosa? Porque ainda assistimos na televisão uma pessoa matar outra em nome de Deus e com a esperança de ser salva por ter feito a Sua vontade? Isso tudo é simplesmente inadmissível.

Por essas razões é que precisamos de um novo iluminismo, recauchutado, modernizado, atualizado. Precisamos dar mais voz à ciência, à tecnologia, ao naturalismo. O planeta clama por uma mudança de postura de vida de todos. Não podemos mais continuar fazendo como nossos ancestrais indígenas que faziam danças para que chovesse e depois outra dança para que parasse de chover.

Precisamos, acima de tudo, entender o Planeta como um ambiente vivo, parte fundamental da nossa própria vida. Parar de buscar no divino as respostas para o que não entendemos e buscar essas respostas no empirismo, na observação dos fatos, no conhecimento científico.

Na Idade das Trevas, a crença difundida era que o planeta era achatado e que ao final do oceano existiria uma depressão e o mundo acabaria. Acreditava-se que a Terra era o centro do universo - e quantas pessoas morreram por discordar desse absurdo. Absurdo maior ainda é ver que hoje as crenças mudaram de endereço, mas continuam no mesmo departamento.

Não, o mundo não é chato, a Terra não é o centro do universo, não existem criaturas fantásticas nos oceanos nem tampouco dragões sobrevoando nossas cabeças. Da mesma forma que não existe também um Deus brincando de marionete conosco, decidindo quem terá uma vida digna ou não, sentado num trono no céu e disputando com seu alterego maléfico quem dominará o mundo.

Acordemos!