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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Jesus Cristo e o Super-Homem

Hoje, pesquisando sobre a figura de Jesus para fazer um trabalho sobre o dialogismo de Bakhtin, me deparei com um texto muito interessante, comparando Jesus com o Super-Homem. Reproduzo-o integralmente abaixo:

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Todos os povos primitivos desenharam para si um herói. Alguém que trouxesse todas as virtudes: forte em todos os sentidos, honesto e de grande moral. Servindo como baluarte entre o povo em questão e a completa destruição (tanto física, quanto moral) do referido povo.
Muitos são os heróis da Antigüidade: Perseu, Beowulf, Héracles (também chamado de Hércules), Sigfried, Cuchulain, Tristão, Orfeu etc. E esta “tradição”, digamos assim, perdura até hoje, quando vamos aos cinemas pra ver filmes do Rambo, Chuck Norris, 007 entre outros.
Entretanto, a maior expressão folclórica de heróis com superpoderes, numa eterna luta do Bem contra o Mal, está presente sob a forma de Histórias em Quadrinhos (HQ’s); sendo o Super-Homem o primeiro, mais famoso e mais poderoso dentre eles.
Há muito tempo, discute-se sobre as várias semelhanças entre o Super-Homem e outra figura mítica: Jesus Cristo – o qual, até que provem o contrário, também não passa de mais um mito. Essas semelhanças são tão grandes que paramos para pensar se foram por acaso ou fruto de uma clara ligação entre estas duas personagens.

Examinando as personagens
O mito do Jesus Bíblico é do conhecimento de muita gente. Críticas sobre sua existência real são discutidas na série A maior farsa de todos os tempos; portanto, seria apenas superlotamento de espaço aqui se retomarmos o tema. Entretanto, a referida série é recomendada para estudo.
Muito bem, o Super-Homem é uma criação de dois amigos de origem judia, desenhistas de quadrinhos, Joe Shuster e Jerry Siegel em 1938, aparecendo no primeiro número da revista Action Comics.
Siegel e Shuster criaram um herói em sua tradição clássica, que lutava para corrigir os erros daqueles tempos, combatendo a tirania e a injustiça social em prol da verdade, justiça e moral da América. Depois, por causa de uma – digamos assim – “globalização”, os criadores fizeram o favor de estender a benevolência do Super-Homem a todo o mundo e, depois, para o Universo.
Os criadores presentearam seu herói com uma roupa e tanto! Um colant azul e vermelho bem chamativos, cinto dourado e uma capa esvoaçante, além da famosa “cueca sobre a calça” (que, por sinal, virou peça comum em qualquer uniforme de um Super-Herói que se preze). Da mesma forma, como todo herói moderno, ele exibe o seu símbolo sobre o peito (por favor, atentem para este detalhe, pois voltarei a isso mais tarde).
Além dos seus poderes sobre-humanos – como super-audição, velocidade quase infinita, força imensa, visão telescópica, visão de raio X, visão de calor entre outras coisas – o que mais caracteriza o Super-Homem é sua bondade extrema e caráter inigualável. Somando-se a isso, ainda tem o fato dele ficar de guarda em órbita da Terra, usar um disfarce de repórter – afim de saber o que se passa no mundo –, ter a capacidade de ver tudo e todos (mesmo atrás de paredes, exceto se forem de chumbo) e ser capaz de ouvir até mesmo sussurros. Isso nos permite afirmar com certeza que o Super-Homem é onisciente. Sua força incrível o faz onipotente e sua velocidade permite que seja praticamente onipresente. Interessante, não é mesmo?
Nada disso seria espetacular, mediante o conceito humano de qualquer entidade superpoderosa. Muitos heróis são fortes, rápidos, inteligentes etc. Mas, somente deuses possuem mais de uma, ou mesmo todas essas características.
O Jesus tal como descrito na Bíblia não foge a essa regra, já que ele foi capaz de caminhar sobre as águas (vôo?), ter força pra expulsar demônios, mostrar-se ciente de tudo o que o cercava e saber de antemão o que o destino lhe reservava, entre outras coisas.

Semelhanças entre Jesus e o Super-Homem
Observando a tabela abaixo (observem também as ilustrações), podemos analisar bem as semelhanças entre os dois.
ORIGENS
Super-Homem Jesus
Kal-El apareceu na Terra, vindo de Kripton. As pessoas viram um clarão que riscou o céu. Uma nave espacial que parecia ser uma estrela que se movia rápido e chegou a um casal humilde que morava nos arredores de Smallville no Estado de Kansas.
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Jesus apareceu no mundo de modo misterioso. Algumas pessoas viram um clarão no céu. Uma estrela que se movia rápido e que apontava até um casal pobre e humilde.
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Este casal percebeu que aquela criança era especial. Um presente que veio do espaço, para um casal que não conseguia ter filhos. Decidiram não contar a ninguém sobre quem era aquela criança e aproveitaram o inverno que estava chegando, e o adotaram como se fosse deles, dando-lhe o nome de Clark Kent. Este casal notou que aquela criança era especial. Um presente vindo dos céus. Decidiram não contar a ninguém sobre quem era aquela criança e o adotaram como se fosse deles.
Com o passar dos anos, esta criança se mostra muito mais especial do que o casal imaginava. Entre um susto e outro, com a revelação de seus poderes sobre-humanos, conseguem criar o garoto. Ele se mostrou mais forte, mais esperto, mais inteligente, e parecia estar destinado a uma vida heróica e surpreendente. Seus pais não tinham duvidas de que o mundo inteiro o conheceria e o reverenciaria. Com o passar dos anos, esta criança se mostra muito mais especial que o pobre casal pensava. Entre um sufoco financeiro e outro, conseguiram criar o garoto. Ele se mostrou inteligente, forte e destinado a uma história grandiosa. Seus pais não tinham dúvidas que o mundo inteiro o conheceria.
VIDA PÚBLICA
Ao chegar na idade adulta, sentiu que o destino o chamava. Então se muda para uma das maiores metrópoles do planeta, e de lá, se revela como Super-Homem, se mostrando como o herói que defende os fracos, oprimidos, combatendo a injustiça e o mal. Pode voar para todos os cantos do planeta para fazer o que fosse necessário para manter o mundo a salvo, coisas que ninguém mais podia fazer sem medo de represálias. Ao chegar na fase adulta, o pai adotivo morre, sobrando apenas sua mãe. Mas, o destino o chamava. Então, aos 30 anos, Jesus se mostra como aquele que veio combater o mal e a injustiça. Ele vai a todo canto e faz proezas que nenhum outro ser humano seria capaz de fazer.
Super-Homem inspira toda uma nova geração de heróis, como Batman, Superboy, Aço, Lanterna Verde, Aquaman, Ajax, Mulher Maravilha, Arqueiro Verde, Liga da Justiça etc. que seguem seus passos, que irão surgindo em diversas cidades do mundo, combatendo o mal.
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Jesus encontra homens que o seguem. Vai de casa em casa e ajuda pessoas. Faz tudo de bom em busca de verdade e justiça, além de proteger os oprimidos de pessoas ruins e maquiavélicas.
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Clark conhece uma mulher em sua vida, a Lois Lane, e os dois vivem uma historia de amor. Um amor capaz de mudar a vida de ambos. Mas Lois sabe que terá de dividir seu amor com o mundo, porem esta disposta a pagar o preço, sendo muitas vezes vitima de preocupações, angústias, ameaças e ataques. Mas Super-Homem sempre a protegeu em todos os momentos em que ela precisou. Jesus encontra uma moça em seu caminho, Maria Madalena, e esta se queda de amores por ele. Grande, forte e capaz de mudar o mundo, ela sabe que terá que dividir seu amor com o mundo, mas está disposta a pagar o preço, sendo muitas vezes xingada e ameaçada. Mas, Jesus sempre a defendeu de ataques infames.
Porém, nem todos estavam satisfeitos com a presença do Super-Homem no mundo. Pessoas como Lex Luthor, interessado em dominar tudo e a todos, decide que e hora de barrá-lo e até eliminá-lo da Terra. Diversos vilões, como Zod, Metallo, Brainiac, Darkseid, Intergangue, etc tentam dar um fim no Super-Homem.
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Entretanto, nem todo mundo estava satisfeito com ele. Pessoas interesseiras em dominar a tudo e a todos decidem que é hora de parar com isso. Eles combinam com homens poderosos para dar um fim no filho de Deus.
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Fazem tudo para que caia em desgraça, derrotá-lo por todos os meios possíveis, traí-lo, enganá-lo, fazê-lo cair em armadilhas. Fazem ele cair no descrédito, arrumam para ele ser traído e cair uma emboscada.
MORTE
Ao se defrontar com Doomsday (Apocalypse, na edição brasileira), os dois lutam brava e furiosamente, se ensangüentam, num ato de auto-destruição. O sangue de Super-Homem corre pela Terra, ele tenta escapar vivo da luta titânica, mas não consegue. Após derrotar o monstro. Ele morre.
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Jesus resiste bravamente, mas apanha muito. Seu sangue corre pela Terra. Ele tenta se salvar, mas não consegue. Ele morre.
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As pessoas acreditam que Super-Homem se fora, que não estaria mais no mundo para protegê-las do mal, aquela esperança se fora. O desespero recai sobre a Terra, e os heróis tentam preencher o vazio que fora deixado por ele, enquanto o mal se alastra pelo mundo. As pessoas acham que seu herói, seu salvador, fora morto. O desespero recai sobre a Terra enquanto o mal se alastra.
Mas enquanto o mundo chora pela morte, a Lois Lane sofre por ele, Super-Homem desce a uma dimensão pós-vida, enfrenta diversos demônios que tentam fazê-lo se esquecer de sua heraça humana, se encontra diante de uma encruzilhada entre a luz e as trevas, e acaba por fim vencendo. Mas, enquanto as mulheres choram, a população se desespera, Jesus desce aos mais profundos abismos, vai ao inferno, enfrenta demônios inferiores. E vence!
RETORNO
O Super-Homem retorna, de forma triunfal, sendo visto pela primeira vez por Lois Lane que vai ao seu encontro. Se apresenta triunfalmente a todos, salvando o mundo de um grande perigo, com poder e gloria, prometendo nunca mais abandonar as pessoas.
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Ele retorna, grande e iluminado. É visto primeiramente por mulheres. Ele se apresenta triunfalmente para seus amigos e se eleva aos céus com grande fulgor e poder, prometendo estar com as pessoas até o fim dos tempos.
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Seus inimigos foram derrotados, Super-Homem está de volta para jamais abandonar a Humanidade, e resguardá-la de todo o mal. Seus inimigos fogem, a terra treme, tudo desaba: Ele está de volta e promete jamais abandonar as pessoas novamente.

A teologia de Jesus e o Super-Homem
Muito representativo, não? Ainda mais se levarmos em conta as expressões iconográficas, como as imagens que retratam o aparecimento de ambos, bem como suas mortes. A bem da verdade, ainda tem muito mais similaridades do que essas. Foram apontadas apenas as principais, e só estas já nos chamam a atenção para as personagens.
Tudo bem que o Super-Homem não nasceu de uma virgem, ele veio em estado embrionário de seu planeta natal e aterrissou aqui já como bebê. Isso é fácil de explicar por causa da Relatividade de Einstein. Quanto mais rápido um corpo viaja, mais lentamente o tempo passa para este corpo. Assim, o jovem Kal-El viajou por milhares de anos, mas para ele foi só um aninho (ou meses, as HQ’s não disseram claramente e nem isso é importante de fato).
Não obstante, num mundo que não sabia o que era inseminação artificial e muito menos DNA, tal desenvolvimento embrionário fora de um corpo vivo era totalmente estranho à época. Miraculoso, até. Algo semelhante a uma “imaculada concepção”, já que não houve ato sexual e, portanto, livrando o jovem kryptoniano de um possível caso de “pecado original”.
De qualquer forma, os Evangelhos não esclarecem (e nem poderiam) a natureza genética de Jesus. Ele foi gerado no ventre de Maria, isso está bem claro. Mas, não informa se o Espírito Santo a fecundou com alguma espécie de “Espermatozóide Santo” ou se Deus implantou o embrião já formado no ventre dela, criando a primeira barriga de aluguel da história.
Trocando em miúdos, os Evangelhos não conseguem informar se Jesus tinha características genéticas de Maria ou exclusivamente do “Espermatozóide Santo”.
Isso pode até parecer que não tem importância, mas tem; e muita!
O Monofisismo era uma doutrina do século V, elaborada por Eutiques e admitia que Jesus possuía uma só natureza: a divina. Esta doutrina foi considerada herética pelo Concílio de Calcedônia em 451 E.C. (Era Comum) e isso gera um sério problema que mistura Ciência, História e Teologia.
Se Jesus tinha a carga genética de Maria, então era meio humano e meio divino. Só que ela (Maria) não é vista como “santa” fora do círculo católico. A própria “Ascensão de Maria” só passou a figurar como dogma católico em meados do século XX. Assim, esta metade humana de Jesus não pode ser levada em conta.
Entretanto, se Jesus fosse gerado apenas (e somente apenas) por um Santo DNA, ele seria unicamente divino, como os Monofisistas afirmavam. Só que tal proposição é rechaçada pela maioria das vertentes cristãs atualmente, e algumas nem sabem informar ao certo.
Os mitos de hoje são melhor elaborados que os de antigamente…
Saindo do âmbito genético e indo para a filologia, o nome de ambos são, de certa forma, similares.
Kal-El, segundo seus criadores, seria um nome que, em kryptoniano, teria o significado de “filho das estrelas”, já que ele veio na forma embrionária conforme foi dito. No entanto, o mais curioso é que em hebraico o nome Kal El tem o significado “amigo de Deus”.
Religiosos costumam relacionar Isaías e Mateus para demonstrar que Jesus receberia o nome de Emanuel.
Isaías 7:14 – Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel. (versão João Ferreira de Almeida)
Isaiah 7:14 – Therefore the Lord himself shall give you a sign; Behold, a virgin shall conceive, and bear a son, and shall call his name Immanuel. (versão King James)
Mateus cap. 1
20. Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo.
21. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados.
22. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta:
23. Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, que significa: Deus conosco.
É claro que isso não é mais aventado e só se pode sugerir que foi uma forçada de barra pelo redator de Mateus. Ainda sim, é curioso ver que um dado amigo de Deus teria, em tese, Deus próximo a si. Logo, que estivesse com o amigo de Deus, também estaria perto deste. Em suma, Deus estaria com quem permanecesse próximo ao amigo de Deus.
As próprias representações gráficas do Super-Homem e de Jesus mostram incríveis similaridades. Desde a representação do nascimento de ambos, até suas mortes, conforme visto acima na tabela. É famoso o gesto do Super-Homem de abrir repentinamente a camisa, mostrando o grande S que é seu símbolo; da mesma forma, Jesus é muitas vezes retratado apontando para o próprio peito, mostrando o “Sagrado Coração”.
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Examinando diversos heróis legendários, isso não surpreende muito. A maioria deles carrega um amuleto, símbolo, desenho ou algo similar sobre o peito, de forma que possa ser bem reconhecido. Desde a armadura dourada de Alexandre Magno, passando pelos romanos, a armadura de Perseu, o escudo em formato de concha de Aquiles, os amuletos celtas etc. Todos os heróis, seja em termos de ficção, como os reais (no caso, os brasões de cavaleiros, ordens militares etc.) são ostentados logo no peito, para estarem bem evidentes e mostrar ao opositor “com quem eles estão falando”.
A representação iconográfica de Jesus não foge a esta norma, já que fica patente que ele “deseja” que você olhe bem de onde vem o “poder” dele.

Análise do contexto político quando da criação
O Super-Homem foi criado num período conturbado, às vésperas da II Grande Guerra. Os E.U.A. tinham passado por uma grande crise econômica e a moral do povo não estava em melhor condição.
Tal como na Palestina do século I, eles estavam em dúvida de sua própria identidade, já que a chegada de muitos estrangeiros (italianos, irlandeses entre outros) estava mesclando diferentes culturas com as da América do Norte. A ação de criminosos, mafiosos, políticos corruptos estavam causando não só um enorme caos político como social também. A chegada de uma figura messiânica acabou se tornando, portanto, uma necessidade.
Não é certo que Siegel e Shuster tenham criado o Super-Homem baseado nas escrituras judaicas e nas promessas de um Messias. Afinal, o conceito de Messias refere-se a um líder militar e tal como Jesus, o Super-Homem estava muito longe disso.
Entretanto, o plano de salvação da humanidade do caos absoluto sempre foi algo presente em todas as religiões e no imaginário dos povos. Com isso, as pessoas sempre olhavam pra cima, esperando a chegada de alguém vindo dos Céus, disposto a ajudá-las e se sacrificar em prol delas, caso fosse necessário.
Um dia olharam e viram algo que se parecia com um pássaro… não, um avião… ou será…?
Os americanos sempre se julgaram uma Nação de Deus (o próprio George Bush usou esta expressão), assim como os judeus se auto-proclamam o “povo eleito”. Podemos levar isso em conta que o Super-Homem seja uma expressão do inconsciente coletivo e da cultura norte-americana com raízes judaicas.
O messianismo judaico em nada se diferencia desse conceito, e dele apareceu o mito Cristão afim de dar às pessoas o que elas precisavam: alguém que elas pudessem acreditar que seria o salvador delas. Não importa se o criador e disseminador desse mito fosse o próprio Império Romano em decadência. Pode-se inclusive afirmar que foi a substituição de um império secular por um espiritual, mas que ainda sim mantinha-se forte, usando as esperanças de um povo como arma de dominação e influência política.
Alguns apologetas de péssima índole vêem nisso como uma confirmação das Escrituras, o que é estúpido. Afinal, porque o próprio Jesus não confirmou previsão nenhuma (como foi dito, o Messias seria um líder militar). Então, ver que a história do Super-Homem é semelhante à de Jesus, evidenciando a Promessa Divina é para, no mínimo, cair na gargalhada, pois evidencia um total desconhecimento sobre as figuras heróicas e como elas se relacionam entre si; ou também pode ser prova de uma manifestação de péssimo caráter, criando ligações que não existem, unicamente para reforçar uma opinião própria e que não tem embasamento intelectual nenhum.

Escala e Heróis de Raglan
FitzRoy Richard Somerset, o 4º Barão de Raglan foi um mitologista e acadêmico, cuja principal obra é The Hero: A study in Tradition, Myth and Dreams. Nesta obra ele discute sobre o conceito de herói no decorrer da história e como ele se aplica nos diversos mitos existentes.
Nessa obra, o autor introduz a famosa “Escala de Raglan”, a qual mostra uma espécie de “ranking” de diversos heróis mitológicos (ou não, como veremos adiante). Para tanto, deve-se fazer umas perguntinhas básicas e ver a pontuação do referido herói. As perguntas são:
  1. A mãe do Herói é uma virgem de sangue real;
  2. Seu pai é um rei e
  3. Freqüentemente parente próximo da sua mãe, mas
  4. As circunstâncias da Sua concepção são pouco usuais e
  5. Ele tem a reputação de ser filho de um deus.
  6. À nascença é feito um atentado à sua vida, geralmente pelo pai ou avô maternal, mas
  7. Ele é misteriosamente levado e
  8. Criado por pais adotivos num país distante.
  9. Não sabemos nada da sua infância, mas
  10. Ao atingir a idade adulta ele regressa ou vai para o seu futuro reino.
  11. Após uma vitória sobre o rei e/ou um gigante, dragão ou animal selvagem,
  12. Casa-se com uma princesa, muitas vezes filha do seu predecessor e
  13. Torna-se rei.
  14. Durante algum tempo, o seu reinado é pacífico e
  15. Ele faz leis, mas
  16. mais tarde perde a aceitação dos deuses e/ou do seus súbditos e
  17. É afastado do trono e expulso da cidade, após o que
  18. enfrenta uma morte misteriosa,
  19. frequentemente no topo de um monte,
  20. Os Seus filhos, se sequer os há, não lhe sucedem.
  21. O Seu corpo não é enterrado, mas ainda assim
  22. Ele tem um ou mais santos sepulcros.
Você conhece quantos heróis, semideuses ou mesmo deuses que se encaixam nessa descrição?
Aqui vai uma listinha, com a pontuação ao lado.
  1. Krishna – 21
  2. Moisés – 20
  3. Rômulo – 19
  4. Rei Arthur – 19
  5. Perseu – 18
  6. Jesus – 18
  7. Watu Gunung (da ilha de Java) – 18
  8. Hércules – 17
  9. Maomé – 17
  10. Super-Homem – 16
  11. Beowulf – 15
  12. Buda – 15
  13. Zeus – 14
  14. Czar Nicolau II – 14
  15. Nyikang (um herói da tribo Shiluk, do Alto Nilo) – 14
  16. Sansão – 13
  17. Sunjata (o Rei-Leão dos antigos Mali) – 11
  18. Aquiles – 10
  19. Odisseu (também chamado de Ulisses) – 8
  20. Harry Potter – 8
Como vocês podem ver, Krishna, o deus hindu, possui mais atributos “heróicos” do que Jesus. Não obstante, nem por isso ele é aceito como sendo um deus fora do hinduísmo. Maomé é tido como uma figura histórica, apesar do ceticismo que abrange seus contatos e inspirações divinas (ou seja, ele pode ter existido, mas não da forma como os muçulmanos o vêem). De qualquer forma, também não é aceito fora do islamismo. E o mesmo acontece com os demais heróis e deuses.
O Super-Homem marca 16 pontos na escala Raglan e é um número alto. No entanto é curioso notar que o Czar Nicolau II, uma figura histórica e bem documentada, marca 14 pontos. Em face dessa escala ele estaria acima de muitos e quase chegou perto de Jesus.
Como é fácil notar, podemos usar esta escala com qualquer personagem e veremos que muitas criações do imaginário humano marca altos pontos. Por que, então, deveríamos crer em uma personagem sem documentos claros, sem evidências históricas e nem arqueológicas? A única “prova” que o Jesus Milagreiro realmente existiu é a Bíblia, e esta é cheia de contradições.
O primeiro evangelho a aparecer foi o Evangelho Segundo Marcos. E este apareceu 80 anos depois da suposta existência de Jesus. Ele narra a destruição do Templo em Jerusalém, mas isso só aconteceu na década de 70 do século I. Isso evidencia que não fora o próprio Marcos que o escreveu, pois obviamente ele não é nenhum highlander para viver tanto.
Os demais evangelhos são vistos pelos especialistas como tendo sido baseados no de Marcos; mas, se examinarmos algumas passagens, veremos que elas são muitas vezes contraditórias (como no caso do julgamento e da ressurreição).
Assim, dizer que a Bíblia atesta a veracidade de uma personagem que não aparece em nenhuma parte de documentos históricos (e os que aparecem são claramente forjados) é subestimar a inteligência alheia.
Há uma piadinha ateísta que diz: Se a Bíblia é prova cabal para atestar a existência de Jesus, então os quadrinhos também podem servir de prova que o Super-Homem existe.
As pessoas sempre precisaram, precisam e ainda precisarão de heróis. Sejam bombeiros resgatando pessoas de um incêndio, policiais da Divisão Anti-Seqüestro, civis comuns que esquecem sua própria segurança em prol do próximo ou de figuras a quem se recorre quando nada mais resta.
É aí que entram as religiões para vender os seus planos de salvação. É aí que a venda de HQ’s obtem seu faturamento. Ambas são baseadas em uma necessidade de escapar da realidade e viver num mundo de ficção, já que por vezes o mundo real é intragável. Sempre haverá pessoas que irão se ajoelhar e implorar por um ente querido ou ligar seu relógio-sinal e esperar que a ajuda venha rápido como uma bala, forte como uma locomotiva e que lute em prol dos necessitados…




4 comentários:

  1. O impressionante é como tudo faz sentido !

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  2. Muy buena tu blog, sus objetivos, y este artículo en especial. saludos.

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  3. Flavio, tu pode me responder uma coisa?
    Já que você tem esse posicionamento de devemos encarar o mundo de forma diferente, com mais naturalismo, humanismo e racionalismo, existe alguma associação de ateus humanitária e ajude outras pessoas?
    Pode ser no Brasil ou no mundo.

    Aguardo respostas suas.

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